"Os estudos sempre me fascinaram"

2016-03-30

Vasco Costa

Tem um Mestrado em Educação Física e sempre conseguiu conciliar os estudos com o futebol. Vasco Costa aposta agora tudo no Vitória de Setúbal e em consolidar um lugar na Primeira Liga.

Concluiu o Mestrado em Educação Física. Como surgiu o interesse por essa área?
Sempre gostei de desporto e queria continuar os estudos a se­guir ao Secundário. O primeiro ano da faculdade foi na Universi­dade da Beira Interior, na Covilhã. Depois, no segundo ano pedi transferência para o Porto, onde concluí o curso.

Ter formação superior sempre foi uma ambição?
Sim. Também tinha o meu irmão como exemplo, que já estava a tirar o curso dele em Engenharia Civil, e também não sabia, nem sei, se o futebol vai durar para sempre. Acabando a carreira temos de fazer al­guma coisa e os estudos sempre me fascinaram, principalmente a área da Educação Física.

A família e os clubes apoiaram-no nos estudos?
Sim. Quando tirei o curso jogava no Limianos, na minha terra, e sempre me proporcionaram condições para estudar. Quando es­tudava no Porto ia todos os dias treinar a Ponte de Lima e o clube pagava-me as viagens. Sempre me ajudaram nisso.

Considera que faltam medidas que apoiem a concilia­ção dos estudos com o futebol?
Por vezes, sim. As universidades podiam ser mais compreensí­veis com os desportistas. Às vezes é difícil conciliar e podiam ser mais flexíveis com a marcação de exames, por exemplo.

Teve de abdicar de muita coisa para se poder concen­trar nos estudos? Como fez a gestão com o futebol?
Não tive de abdicar de nada. Queria muito as duas coisas e tive de lutar por ambas. Há tempo para tudo, para estudar e para nos dedicarmos ao futebol. Temos é de saber dividir o tempo.

É visto pelos colegas como um exemplo a seguir?
Penso que sim, principalmente pelos mais jovens. Vêem que con­segui chegar à Primeira Liga enquanto estudava. Penso que para eles é um exemplo e dá-lhes mais força para eles também estudarem.

Aconselha-os a não abandonar os estudos?
Quando estou com gente mais nova, sim. O futebol é muito rápi­do e depois temos de nos dedicar a outras coisas. E nunca é de­mais saber. Quem estuda, mais tarde vai tirar os seus proveitos.

Um jogador com formação académica pode ser melhor em campo? Acha que há ligação?
Não. A inteligência de um jogador em campo é diferente da inte­ligência de um jogador para os estudos.

Quando terminar a carreira quer ficar ligado ao fu­tebol ou prefere seguir a área para a qual estudou?
Já pensei fazer uma pós-graduação em gestão desportiva para também ter a possibilidade de ficar ligado ao futebol, mas gos­tava de um dia dar aulas.

Abandonar os estudos precocemente é uma das maio­res “pragas” para quem quer ser profissional?
Sim, principalmente em Portugal, onde se vêem muitas situa­ções dessas. Quando chegam ali à idade de júnior só querem pensar no futebol e deixam os estudos de lado. Muitas vezes os clubes também têm culpa, porque mesmo nos juniores mar­cam treinos durante o dia e obrigam os jogadores a terem de escolher. E claro que os jogadores vão atrás do treino.

Chegou este ano à Primeira Liga com 24 anos. Já duvidava que fosse possível?
Não, sempre acreditei que um dia iria cá chegar e era para isso que lutava, só que com o passar do tempo às vezes pensamos que é cada vez mais difícil. Mas nunca desisti e as pessoas que estavam perto de mim sempre me disseram que ia conseguir. Graças a Deus, consegui e quero manter-me cá.

Trocou o Fafe, do Campeonato de Portugal, pelo Vitória de Setúbal. Quais são as principais diferenças entre os escalões?
A qualidade dos jogadores é diferente e principalmente o rit­mo é totalmente diferente, é muito mais elevado. Inicialmente, para mim, a adaptação foi difícil.

Qual é a sua principal meta para este ano?
A principal meta é ajudar o clube, ter o maior número de jogos possível e aprender também. Acima de tudo isso, no primeiro ano tenho muito a aprender.

Quem era o seu ídolo de infância?
Rui Costa.

Actualmente tem algum jogador como referência?
Gosto muito do Cristiano Ronaldo, como qualquer português, mas a referência como ponta-de-lança é o Agüero.

Qual é a sua opinião sobre a actuação do SJPF?
É uma mais-valia para todos os jogadores que podem usufruir dos serviços do Sindicato. Quando um jogador passa por difi­culdades pode sempre ter essa ajuda e penso que todos os jo­gadores deviam estar ligados ao Sindicato.