"Os jovens não devem deixar os estudos pelo futebol"

2013-04-24

Pedro Grosso

Carinhosamente, é tratado por doutor pelos seus colegas de clube. Um tratamento com propriedade. Pedro Grosso, 26 anos, concilia o curso de Medicina na Universidade do Porto com a carreira de futebolista profissional no Desportivo das Aves.

O Pedro é um exemplo de que é possível conciliar os estudos com o futebol ao mais alto nível. É difícil?
Sim, é difícil conciliar as duas coisas pois ambas exigem bastante de nós. Conciliar os horários já é difícil e é preciso força de vontade para no fim dos treinos ainda ir às aulas. Mas consegue-se fazer.

Sentiu-se sempre apoiado pela família e pelos clubes por onde passou para concluir os estudos?
A família sempre me deu muita força e sempre me tentou ajudar ao máximo para conciliar as duas atividades. Desde que entrei em Medicina estive apenas no Leça e no Aves mas tive sempre o apoio dos dois clubes e até já me deixaram faltar a treinos para fazer exames. Nunca faltei para ir às aulas, porque a minha responsabilidade profissional é para com o meu clube, mas para ir a exames já me deram essa facilidade.

Na sua opinião, falta adotar medidas que facilitem a conciliação do estudo com a profissão de futebolista profissional?
Talvez não pense muito assim porque os clubes precisam cumprir os seus horários e querem fazer o seu trabalho que é competir ao mais alto nível. Penso que falta, isso sim, incentivar mais os jovens a que não deixem os estudos pelo futebol, e mesmo nas camadas jovens criar condições e incentivos para que os atletas sejam bons nos estudos e não só no futebol. Talvez a única medida que consideraria importante era dar facilidade aos atletas que estudem de, ao mudaram de clube (e muitas vezes de cidade), poderem transferir-se para universidades perto do local para onde se mudaram para continuarem o curso

Porquê a opção pelo curso de Medicina?
Sempre me fascinou a área da saúde. Confesso que, no início, tinha a ideia de seguir essa área mas numa vertente mais de investigação, mas acabei por ir ganhando o gosto pela área clínica e quando chegou a hora de decidir já sabia que era Medicina que queria. Adoro Medicina e teria que ser essa a minha escolha.

O SJPF está a criar um cheque-formação para que os jogadores possam frequentar determinados cursos. Pode ser algo apelativo para os jogadores?
É mais uma medida que pode incentivar os jogadores a optarem por ter mais formação académica para além do futebol.

Um jogador com formação académica e até mesmo superior torna-se um melhor jogador?
Não penso que se torne melhor jogador, penso sim que na sua vida possa, eventualmente, ter uma capacidade diferente em tomadas de decisões pois tem sempre uma outra perspetiva da vida.

Quando acabar a carreira pensa continuar ligado ao futebol ou enveredar pela medicina?
Sem dúvida que seguirei Medicina. Quanto muito poderei dar apoio ao Desp. Aves, visto ser o meu clube do coração, como médico. Mas a prioridade é fazer carreira em Medicina quando acabar o futebol.

É visto pelos seus colegas como um exemplo? Dá-lhes conselhos para não abandonarem os estudos?
Não gosto de me ver como um exemplo, mas sinto que sim, que os meus colegas de certa forma me admiram por estudar medicina. Conselhos dou mais ao jovens com quem vou falando e tento-lhes fazer ver que é importante estudarem para terem mais perspetivas futuras.

Pensa que abandonar os estudos precocemente é uma das maiores “pragas” de quem quer ser futebolista profissional?
Acho que cada vez se vê menos isso, mas muitas vezes os jovens estão demasiado focados em serem jogadores e acabam por se esquecer que por muito bons que sejam é difícil, muito difícil chegar a um patamar muito alto no futebol. Por isso enquanto jovens não devem descurar os estudos. Nem que depois, se realmente conseguirem chegar ao futebol profissional, parem por não conseguirem conciliar. Mas até lá é sempre muito melhor ter mais que uma porta aberta. E não vai ser por isso que vão ser menos jogadores ou que vão ter mais dificuldades em chegarem a jogadores.

Qual a sua opinião sobre a atuação do SJPF?
No geral, penso que o SJPF tem tido uma atuação muito positiva, tentando estar sempre perto dos jogadores. No que aos estudos diz respeito, fico muito contente por ver o SJPF interessado em que os jogadores estudem e tenham mais formação académica. Por exemplo quando iam aos clubes promover o programa das novas oportunidades e dando aos jogadores facilidades para cumprirem esse programa, penso que era uma iniciativa extremamente positiva e louvável.