“Hoje só mesmo quem não quer é que não conclui o 12.º ano”

“Hoje só mesmo quem não quer é que não conclui o 12.º ano”

2018-11-08

Sérgio Marakis está a completar o 12.º ano através do Programa Qualifica, com o apoio do Sindicato.

O médio do Nacional pretende terminar o 12.º ano e vai iniciar o curso de treinador, por incentivo dos colegas.

Estás a tirar o 12.º ano. O que te motivou a voltar a estudar?
Sempre tive o objetivo de ter, pelo menos, o 12.º ano. Tirei o 11.º quando ainda estava no Marítimo e foi a falta de tempo que me levou a abandonar os estudos. Quis dedicar-me a sério ao futebol, mas claro que os estudos são muito importantes. E o curso de treinadores que vou tirar vai servir como complemento das 50 horas que são precisas dedicar a este percurso, para terminar o 12.º ano.

Estás no I nível do curso de treinadores?
Sim, vou começar. Muitos colegas incentivaram-me para isso. Por norma, sou capitão das equipas pelas quais passo e, felizmente, tenho a capacidade e o dom de contagiar as pessoas para melhor. Pode ser que dê certo como treinador. Nunca sabemos o dia de amanhã.

Depois de terminares o 12.º ano ponderas continuar para uma licenciatura?
Sempre fui bom aluno e claro que tenho algumas ideias em mente, mas também depende muito do meu percurso desportivo. Depende de onde e como estarei nesse momento.

Faltam medidas que apoiem a conciliação dos estudos com a profissão de futebolista?
Na altura em que deixei os estudos senti que havia essa falta de medidas, mas, agora, cada vez mais, o Sindicato tem feito um bom trabalho. Soube disto através de um colega de trabalho que admiro muito, o Tarantini, do Rio Ave. Sei que ele tomou muito a iniciativa, juntamente com o Sindicato, para que isto pudesse vir a ser feito, esta colaboração com os jogadores profissionais em relação aos seus estudos, e hoje só mesmo quem não quer é que não conclui o 12.º ano.

A família e o Nacional apoiaram-te relativamente a esta decisão de voltares a estudar?
Claro, sem dúvida. Quem nos rodeia são as pessoas que mais querem o nosso bem. Sabem que os estudos só servem para me abrir os horizontes e precaver-me porque, infelizmente, isto é uma carreira curta e estamos sempre sujeitos a lesões que, a qualquer momento, podem mudar as nossas vidas. Sei pela minha aprendizagem de vida que nunca devemos depender só de uma fonte de rendimento, temos de ir sempre à procura de outras opções viáveis.

Sentes que és visto pelos colegas de equipa como um exemplo a seguir?
Sem dúvida. Já tive vários colegas a questionar-me como é que podem também vir a concluir os estudos, estou a ajudar dois ou três colegas a tratar disso. Creio que isto também é uma questão de passarmos a palavra e tenho a certeza de que há muitos jogadores, até mesmo estrangeiros, que não têm essa possibilidade e que ficariam mais do que satisfeitos com esta colaboração com o Sindicato e com esta ajuda para que possam concluir as suas vidas escolares.

Aconselhas os colegas, principalmente os mais novos, a não abandonarem os estudos?
Aconselho-os profundamente a não abandonarem os estudos, embora saiba que há muitos jogadores que passam por uma fase em que é preciso terem uma educação muito sólida, alguém que lhes abra os olhos e os mantenha com os pés assentes na terra, independentemente do que já conseguiram atingir, por mais alto que seja o patamar a que tenham chegado. O futebol é feito de momentos. Hoje estamos aqui em cima, como profissionais na Primeira Liga, mas amanhã estamos noutros patamares abaixo. O melhor conselho que posso dar é que se possam precaver no sentido escolar porque, como disse, nunca sabemos o dia de amanhã.

Sabes se há mais jogadores do Nacional a estudar?
Sei que tenho mais três colegas que estão no início do processo, a juntarem a papelada para começarem a estudar.

E não há nenhum que esteja na faculdade a tirar uma licenciatura?
Não. Que eu saiba, não.

Abandonar os estudos precocemente é uma das maiores “pragas” para quem quer ser jogador profissional?
Acho que há muitos que se deslumbram quando chegam a um certo nível e, sem dúvida, que isso acaba por afetar o foco em termos de estudos, no sentido de atingirem aquilo que desejariam se não fossem profissionais de futebol.

Um jogador com formação académica pode ser melhor em campo?
Sem sombra de dúvida, até no sentido de adquirir um melhor estudo das outras equipas e dos outros jogadores, para verem o jogo de outra perspetiva. Isso também é importante porque muito do futebol é jogado mais do que fisicamente. O futebol é psicológico. E é fundamental terem uma mentalidade muito firme e estável.

Qual é a tua opinião sobre a atuação do Sindicato no futebol português?
Tem sido fundamental. O Sindicato tem vindo a ser um lago no meio do deserto porque, infelizmente, existem muitas situações deliciadas e é muito gratificante termos o apoio do Sindicato. Falo por experiência própria, o Sindicato já esteve lá por mim e acho que todos nós devemos um agradecimento por todos os esforços, possíveis e impossíveis, para estarem ao lado do jogador, mesmo o jogador não sendo português. É de louvar todas as atitudes e a delicadeza com que defenderam muitos dos jogadores da nossa liga.


Perfil
Nome: Sérgio Romeu Marakis
Data de nascimento: 11 de novembro de 1991
Posição: Médio
Percurso como jogador: Marítimo (formação), Sporting (formação), Oeiras (formação), Marítimo (formação), Marítimo B, Marítimo, Portimonense, Ermis Aradippou (Chipre), União da Madeira e Nacional.