ENTREVISTAS

"O Sindicato foi essencial para mim"
Fábio Faria
Depois de ultrapassados os problemas cardíacos, Fábio Faria regressou aos estudos com o apoio do Sindicato.
Sala 201 do ISMAI, aula de Contabilidade. Cerca de 40 alunos escutam com atenção as indicações dadas pela professora Maria José Ferreira e entre os presentes há um com uma história de vida para contar. Falamos de Fábio Faria, um jovem de 25 anos, que se viu forçado a abandonar o futebol profissional devido a problemas cardíacos.
“Cheguei a temer pela vida. Meia hora depois de me ter sentido mal, entrei na ambulância e perdi os sentidos. Já via a minha família ao longe e pensava que não ia resistir. Foi um milagre, Deus esteve do meu lado e deu-me uma oportunidade para estar a fazer o que gosto”, recorda o antigo defesa central que se notabilizou ao serviço de Rio Ave e Benfica.
O dia 4 de Fevereiro de 2012 nunca sairá da memória de Fábio Faria. Quando faltavam dois minutos para terminar o jogo entre o Rio Ave e o Moreirense, a contar para a Taça da Liga, o coração de Fábio destruiu o sonho de uma vida. “Foi aí que tudo terminou. O que andava a construir há muitos anos tinha chegado ao fim”, conta o ex-jogador, emocionado.
Um ano e nove meses depois do trágico episódio, Fábio regressou aos estudos com o apoio do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol, estando neste momento a frequentar o segundo ano da licenciatura em Gestão do Desporto, no ISMAI.
Regresso ao futebol é um objectivo após a conclusão do curso
“Tem sido um curso muito bom para mim, tenho aprendido muito, pensei que depois do futebol não ia aprender mais nada, mas o curso tem-me ajudado muito. Já tenho mais conhecimentos a nível económico, porque tenho muitas disciplinas de gestão e matemática, e isso é muito bom para mim. Estou contente com o curso”, confessa Fábio, que não esquece o apoio prestado pelo Sindicato.
"Estou muito satisfeito com a ajuda do SJPF, foi essencial para mim. Só tenho palavras de agradecimento pelo que tem feito. Nunca pensei voltar a estudar e se não fosse o Sindicato a incentivar-me e a fazer-me ver que no futuro seria bom para mim, não o teria feito", assume o antigo central, que admite algumas dificuldades no regresso aos estudos.
“O primeiro ano foi um pouco complicado porque não estudava há oito anos. Entrei em Novembro, quando o primeiro semestre já ia a meio, e a adaptação não foi fácil", confessa.
Apesar das adversidades, Maria José Ferreira, professora de Contabilidade, garante que Fábio Faria vai conseguir ultrapassá-las com o empenho que demonstra nas aulas: “O Fábio dedica-se ao estudo e procura sucumbir as dúvidas que vai tendo ao longo do tempo. É natural que tenha uma ou outra dificuldade, mas é um aluno com muitas capacidades e força de vontade.”
Curioso é o facto de Fábio escrever com a mão direita, apesar de ter sido canhoto quando jogava futebol: “Muitas vezes levava ‘duras’ do míster Jorge Jesus porque devia trabalhar mais o meu pé direito, que só servia para subir os degraus. É estranho escrever com a mão direita mas é algo que nunca me fez confusão”, admite, entre risos.
Coração destruiu-lhe o maior sonho
E os problemas cardíacos impedem Fábio de praticar desporto? “Posso fazer desporto mas tenho de ter muito cuidado. Tomo todos os dias um comprimido de manhã para manter o ritmo cardíaco baixo e faço desporto porque senão dou em maluco. Ao domingo jogo com os meus amigos, sou guarda-redes, porque não posso ir para a frente, e nas aulas práticas tenho de ter algum cuidado, mas os professores já sabem e não me deixam abusar.”
O amor de Fábio pelo futebol tem uma explicação genética. O pai, Chico Faria, foi futebolista e jogou como avançado em clubes como o Rio Ave e o Belenenses. O tio e padrinho, Passo, foi defesa do Rio Ave, tal como Fábio. “O meu filho foi um excelente jogador. Lutou sozinho, às custas dele, até onde chegou. Incentivei-o sempre a estudar, mas ele não foi na minha conversa e decidiu ser jogador. Infelizmente, os problemas de saúde vieram dar razão ao pai e ele acabou por regressar aos estudos”, conta Chico Faria.
Fábio confessa que no Verão sente uma certa saudade do futebol ao ver ex-colegas a iniciar a época e a não poder fazer o mesmo. Em pleno relvado do Estádio dos Arcos, em Vila do Conde, o antigo defesa central recorda alguns dos melhores momentos da sua carreira: “Os melhores anos foram no Rio Ave. Foi o clube onde apareci e ao qual devo muito por terem apostado em mim. O Benfica é um clube de outra dimensão, está em crescimento e dentro de poucos anos não tenho dúvidas de que vai ser um dos melhores do Mundo.”
Os dias de Fábio passam pelas aulas e pela loja de roupa, com o futebol sempre presente
Além dos estudos e do futebol, há uma outra paixão na vida de Fábio Faria: a moda. “A paixão pela moda nasceu há algum tempo, quando jogava já gostava de comprar coisas diferentes e quando deixei o futebol houve um ano de reflexão para decidir o que ia fazer. A minha namorada tirou o curso de designer e numa conversa que tivemos juntámos o útil ao agradável e decidimos criar uma marca de roupa [D JA VU]. As coisas estão a correr bem e as pessoas estão a gostar muito.”
E depois dos estudos, o que se segue? “Gostava de ficar ligado ao futebol porque é a minha vida. Foi sempre o que quis fazer. Obviamente que tenho de acabar o curso e sei que isso vai ser bom para mim, mas espero que tanto o Rio Ave como o Benfica me proporcionem essa oportunidade”, deseja Fábio, que decidiu investir na sua formação com o apoio do SJPF.