Garantir o futuro na medicina

Garantir o futuro na medicina

2019-07-04

Médio do SC Covilhã, Filipe Cardoso, está prestes a terminar a licenciatura.

A recente contratação do SC Covilhã, que até agora jogava no Coimbrões, está prestes a terminar uma licenciatura em Medicina, apesar de nunca ter sonhado ser médico.

O que sempre assumiu como certeza foi que queria ter um curso superior, uma ideia também incutida pelos pais, porque não sabe o que o futebol pode dar.

Estás a terminar uma licenciatura em Medicina no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), na Universidade do Porto.  Porquê esta área?
Nunca tive o sonho de ser médico, foi uma área escolhida um bocadinho ao acaso. No Secundário as notas foram surgindo, no final do 11.º ano achei que a Medicina era uma área que até me despertava alguma curiosidade e que se adequava ao meu perfil, então acabei por optar por este caminho.

Ter um curso superior sempre foi um objetivo?
Sim, tirar um curso superior foi algo que sempre tive bem ciente na minha cabeça e foi algo que também sempre me foi incutido pelos meus pais. Se sou o que sou hoje, em parte devo-o a eles. Também foi uma forma de assegurar um futuro mais risonho e com mais certezas, sem grande insegurança.

Aos 25 anos, e prestes a terminar o curso, assinaste pelo SC Covilhã, da Segunda Liga. Achas que terias feito o curso da mesma forma caso tivesses chegado mais cedo ao futebol profissional?
A nível profissional a exigência é outra. Se esta oportunidade tivesse surgido mais cedo provavelmente não faria o curso de Medicina em seis anos. Se calhar tinha feito de um modo mais espaçado.

Chegaste a ter propostas da Primeira ou da Segunda Liga durante o teu percurso académico?
Não, durante o meu percurso académico não tive propostas concretas da Primeira ou da Segunda Liga. Esta foi a primeira de um clube da Segunda Liga.

Faltam medidas que apoiem a conciliação dos estudos com a profissão de futebolista?
Não me posso queixar em relação ao Coimbrões. Apesar de não ser profissional, sempre tive o máximo apoio por parte da Direção e da equipa técnica de forma a conciliar os meus estudos com a vida de futebolista. Penso que no plano profissional, tendo em conta que treinam de manhã e a exigência é outra, acho que neste momento é difícil conciliar as duas coisas.

Abandonar os estudos precocemente é uma das maiores “pragas” para quem quer ser jogador profissional?
Sim. O futuro de um jogador de futebol é muito incerto. A maioria dos jogadores acaba os estudos muito cedo e optam por se focar apenas no futebol. É uma opção, mas um jogador pode estar na melhor forma e a fazer o campeonato da sua vida e corre o risco de ter uma lesão grave e comprometer o seu futuro.
Mesmo que consiga fazer uma longa carreira no futebol, até essa dura pouco tempo e é importante saber de que forma vai ocupar a vida depois de pendurar as botas. Não digo que precisem de estudar, como eu estudei, mas acho que é importante ter bem ciente um plano daquilo que se vai fazer após esta vida que não dura para sempre.

Sentes que és visto pelos colegas de equipa como um exemplo a seguir?
Não, não me vejo como um exemplo. Claro que não é comum ver um jogador de futebol com um curso de Medicina, mas o importante é os jogadores terem um plano bem traçado daquilo que querem fazer no futuro porque o futebol tanto pode dar para ganhar milhões como para não ganhar quase nada.

E sentes alguma admiração por parte dos teus colegas de faculdade por seres jogador?
Sim, acho que sinto alguma admiração deles por ter conseguido conciliar as duas coisas e nunca ter desistido nem ter deixado nada para trás na faculdade nem ter descurado o futebol. Consegui sempre conciliar as duas coisas sendo exigente comigo próprio, mesmo tendo um horário muito rígido. Mas, além dessa admiração, sinto um grande apoio. Mesmo nos momentos mais difíceis durante o curso ou no futebol, tive sempre o apoio deles. Isso é que é o mais importante.

Aconselhas os colegas, principalmente os mais novos, a não abandonarem os estudos?
Sim, isso é um conselho que tenho a dar: que os mais novos não desistam de estudar. Claro que se conseguirem singrar no futebol vão ganhar milhões como muito provavelmente não iam ganhar na vida, mas só uma minoria, muito reduzida mesmo, vai ganhar esse tipo de dinheiro. Tenho no pensamento que, quanto mais formada uma pessoa for, melhor vai ser o seu futuro, mais dinheiro vai ganhar e mais tranquilamente vai viver a vida.

Um jogador com formação académica pode ser melhor em campo?
Não posso dizer isso com certeza porque não sei. Mas o futebol é jogado principalmente com o cérebro, quanto mais estimulado o cérebro for mais ativo estará e, nesse sentido, melhores decisões cada qual vai tomar durante o jogo. Isso é normal. Agora se existe uma relação entre formação académica e ser melhor em campo? Não faço a menor ideia.

Qual é a tua opinião sobre a atuação do Sindicato no futebol português?
Penso que o Sindicato tem uma ação importante no futebol português. Protege os direitos dos jogadores e denuncia clubes que por vezes não cumprem e não são corretos com os jogadores, não pagam e não oferecem as condições mínimas para se jogar lá. Acho que o Sindicato é importante nesse tipo de questões.


Perfil
Nome: Filipe Couto Cardoso
Data de nascimento: 2 de junho de 1994
Posição: Médio
Percurso como jogador: Coimbrões (formação), Boavista (formação), Coimbrões (formação), Coimbrões e SC Covilhã.