“A conciliação dos estudos com o futebol deveria ser obrigatória”

“A conciliação dos estudos com o futebol deveria ser obrigatória”

2012-09-24

Nuno Piloto

Nuno Piloto, médio do Olhanense, é licenciado e mestre em Bioquímica pela Universidade de Coimbra.

O Nuno é um exemplo de que é possível conciliar os estudos com o futebol ao mais alto nível. Foi difícil?
Olhando em retrospectiva creio que implicou alguns sacrifícios, determinação e força de vontade mas também, aquando da conclusão, uma sensação de dever cumprido e de realização pessoal, que se sobrepõe claramente, e minimiza as dificuldades sentidas. 

Sentiu-se sempre apoiado pela família e pelos clubes por onde passou para concluir os estudos?
A minha família, e mais concretamente os meus pais, é a grande responsável pela minha educação e formação. Assim sendo o percurso académico constituiu uma prioridade e um passo natural. A Académica, tendo uma longa tradição de jogadores estudantes, foi a "casa" ideal para esse desiderato. 

Falta adoptar medidas que facilitem a conciliação do estudo com a profissão de futebolista profissional?
Essa é uma possibilidade que poderia representar um aumento de oportunidades para os futebolistas profissionais desde que implementadas de forma rigorosa e justa, e não colidam com os deveres profissionais dos atletas. 

Porquê a opção pelo curso de Bioquímica?
Devido à minha escolha e predilecção pela área de Ciências, pelo interesse no conhecimento dos processos fisiológicos e enzimáticos que se processam ao nível molecular e pelo gosto pelo trabalho de investigação laboratorial.

O SJPF está a criar uma estrutura de formação online que combate, em parte, a dificuldade provocada pela mobilidade (mudança de clube ou até de país) dos atletas. Parece-lhe uma boa ideia?
Parece-me ser uma excelente ideia e uma base de apoio que poderá ser de grande utilidade para os atletas.

O SJPF está também a criar um cheque-formação para que os jogadores possam frequentar determinados cursos. Pode ser algo apelativo para os jogadores?
Tendo em conta a actual conjuntura sócio-económica do País que se reflecte no decréscimo generalizado dos salários dos atletas e em dificuldades de cumprimento dos prazos de pagamentos, diria que será uma mais-valia.  

Um jogador com formação académica e até mesmo superior torna-se um melhor jogador?
Não necessariamente, visto que as tarefas específicas desempenhadas dentro das quatro linhas vão sendo desenvolvidas à custa de muitas horas de treino. No entanto existem áreas de aprendizagem que podem ser potencializadas, por exemplo, dentro da Bioquímica compreender o nível da mobilização e recrutamento de substratos energéticos poderá ajudar a uma melhor performance.

Quando acabar a carreira pensa continuar ligado ao futebol ou enveredar pela área na qual se formou?
Não tenho essa situação bem definida até porque não se coloca no imediato, no entanto revejo-me mais na segunda opção.

É visto pelos seus colegas como um exemplo? Dá-lhes conselhos para não abandonarem os estudos?
Posso ser um exemplo na medida em que consegui conciliar os estudos com a prática desportiva, provei que não é impossível e nesse sentido tenho alguma legitimidade para os aconselhar e alertar para a efemeridade/fragilidade da nossa carreira.

Abandonar os estudos precocemente é a maior “praga” de quem quer ser futebolista profissional?
Conjuntamente com a dificuldade de afirmação do jovem jogador português. A obrigatoriedade de conciliação de estudos deveria ser uma política imperativa nos clubes formadores.