ENTREVISTAS

"Os jovens deixam-se levar pelo sonho e esquecem-se dos estudos"
Ricardo Dias
Ricardo Dias está de olhos postos na bola, mas acredita que os estudos são muito importantes para a progressão na vida de qualquer pessoa. Está a tirar Economia na Universidade de Aveiro.
Onde está a tirar o seu curso de Economia?
Encontro-me a frequentar o curso de Economia na Universidade de Aveiro. Passei para o 3º ano.
Tem-se sentido apoiado pela família e pelos clubes onde tem passado?
Quando era mais novo, os meus pais diziam-me que a prioridade era os estudos e que o futebol era um divertimento. Hoje em dia, apesar de a prioridade ser o futebol, não descuro os estudos e eles dizem-me sempre para continuar com esta motivação, porque vai ser muito importante no futuro. Os clubes também têm sido compreensivos.
Faltam medidas que facilitem a conciliação do estudo com a profissão de futebolista?
Já passei por diversas dificuldades a esse nível, sim. Por exemplo, nos últimos anos dificultaram imenso o acesso ao conhecido Estatuto de Alta Competição. Só têm acesso os atletas que obtenham resultados nos primeiros lugares de Campeonatos do Mundo e da Europa. Outra dificuldade reside na sua aplicação. Já passei por uma faculdade em que me foi “negada” a utilização de benefícios que estão estipulados no Estatuto de Alta Competição. Em geral, as únicas medidas que encontrei que facilitaram essa conciliação resultaram da abertura dos professores, para, por exemplo, realizar exames em datas que não coincidissem com treinos ou jogos.
Economia foi sempre uma ambição?
Foi uma opção que resultou do facto de ter começado a ter um ordenado desde muito cedo. Começar a lidar com dinheiro, poupanças, aplicações bancárias... Suscitou em mim um interesse pela parte económica.
O SJPF está a criar um cheque-formação para que os jogadores possam frequentar determinados cursos. O que acha da medida?
Acho que se trata de uma boa medida visto que a maioria dos meus colegas abandonou muito cedo os estudos e acaba por não ter nenhum suporte quando terminar a sua carreira de jogador.
Um jogador com formação académica pode ser o melhor em campo?
Penso que pode ajudar um pouco ao nível tático, na compreensão das ideias, mas não creio que seja relevante.
Quando acabar a carreira, pensa continuar ligado ao futebol ou prefere seguir carreira de economista?
Gostaria de estar ligado á área económica mas porventura até poderei estar ligado ao futebol.
É visto pelos seus colegas como um exemplo a seguir?
Aconselha-os a não abandonar os estudos?Sim, acho que sim. Admiram a vontade que tenho para ir para as aulas e estudar depois de um treino ou jogo. Tenho notado que cada vez mais os jovens jogadores têm essa preocupação e começam a ser mais nesta situação. Sempre que posso falo no meu caso e tento fazer ver que é possível conciliar as duas coisas.
Abandonar os estudos precocemente é uma das maiores “pragas” de quem quer ser futebolista profissional?
Sem dúvida! Os jovens deixam-se levar pelo sonho e esquecem-se dos estudos. Sinto que faz falta os pais, clubes, associações e federações educar os miúdos no sentido de estes não abandonarem a escola.
Qual a sua opinião sobre a atuação do SJPF?
Penso que têm ajudado a unir esta classe porque só assim será possível reivindicar os direitos dos jogadores.