HISTÓRIAS DE SUCESSO

Batis Candé

Batis Candé

Estudante do 12.º ano

Resistente por uma causa

Avançado de 24 anos lesionou-se com gravidade em 2017 e ficou impedido de jogar desde então. Regressou aos estudos, frequenta o programa Qualifica e prepara o futuro. Em nome do filho

Esta é uma história de superação. Resiliência. Persistência. Perseverança. Amido Batis Candé, de 24 anos, viu-se afastado da profissão de futebolista depois de sofrer uma rotura dos ligamentos cruzados do joelho esquerdo no primeiro treino pelo Lusitano Vildemoinhos, em 2017, após ter feito o Estágio do Jogador do Sindicato. A recuperação não correu como o previsto, Batis não voltou a poder jogar e com o apoio do Sindicato, não só a nível jurídico, mas também no âmbito da reabilitação física e plano de saúde, teve de readequar objetivos, traçar novas metas, percorrer novos caminhos. Depois de crescer ao lado de nomes como Gelson Martins, Bruma, Podence, Bernardo Silva ou Cancelo, Batis procura hoje garantir um futuro melhor para si e para o seu filho: voltou a estudar, procura concluir o 12.º ano através do programa Qualifica, por intermédio do Sindicato dos jogadores, e personifica na perfeição o espírito retratado nesta rubrica – Desistir? Nunca!

Comecemos pelo início: chega a Portugal aos 15 anos, na companhia de vários outros jovens guineenses e começa a trabalhar e jogar pelo Sporting antes de ir para os juniores do Benfica, dois anos depois. Como é que tudo se passou?
A minha história no futebol começou muito cedo em Bissau e aos 15 anos surgiu a proposta de vir para o Sporting. Vim cá com o meu empresário na altura, que era o Catió [Baldé], e acabei por fazer duas épocas no Sporting. Em 2012 mudei-me para o Benfica, nos juniores. Por isso, fiz a formação aqui e depois a minha carreira passou pelo estrangeiro. Devido a isso, não consegui concluir o 12.º ano, fiz o 11.º quando estava no Benfica. Depois de ir para Inglaterra não tive mais tempo para estudar. Quando voltei a Portugal, falei com o Sindicato e surgiu essa ideia de concluir o 12.º ano para ter mais opções de carreira, porque o futebol nem sempre dá certo, nem todos chegam lá acima. Temos sempre de pôr os estudos em primeiro lugar.

Nessa etapa de formação, o crescimento foi feito ao lado de Gelson Martins, Bruma, Podence no Sporting, Bernardo Silva, Cancelo ou André Gomes, no Benfica: ainda mantém algum contacto com alguns desses jogadores ou o destino seguiu o seu caminho e nunca mais se cruzaram?
Mantenho contacto com os amigos que fiz na formação. Principalmente o Bruma, o Edgar Ié, o Agostinho Cá, o Edelino Ié, que é o irmão gémeo do Edgar, o próprio Gelson Martins, que era um dos melhores amigos que eu tinha na equipa, tanto nos sub-16 como nos sub-17 do Sporting. Ainda continuo a ter contacto com ele, falamos de vez em quando. Eramos companheiros de quarto. No Benfica, tive o prazer de jogar com o Bernardo Silva, que era o capitão da minha equipa, o próprio Cancelo, o Lindelof, o Bruno Varela, que era o guarda-redes… Tínhamos uma equipa de craques que, felizmente para eles, correu bem.

 
“Gelson Martins era um dos melhores amigos que eu tinha na equipa, tanto nos sub-16 como nos sub-17 do Sporting. Ainda continuo a ter contacto com ele, falamos de vez em quando. No Benfica, tive o prazer de jogar com o Bernardo Silva, que era o capitão da minha equipa”


Depois disso, seguiu para o estrangeiro: Inglaterra, primeiro, Polónia, depois. Como viveu essa experiência?
Depois da passagem pelos juniores do Benfica, tive um convite do Wolverhampton, de Inglaterra. Fui lá com um amigo meu, estive lá durante quatro meses, depois as coisas não correram da melhor forma e acabei por ir para uma equipa da quinta divisão, que era o Tamworth. Fiz lá uma época e meia e, desde então, joguei por equipas dos escalões inferiores de Inglaterra. Em 2016/17, consegui contrato com uma equipa da Polónia. A minha namorada estava grávida. Depois de nascer o meu filho, queria dar mais oportunidade à família e para estar ao pé do meu filho, acabei por voltar a Portugal.

Volta a Portugal e em 2017 faz o Estágio do Jogador aqui no Sindicato…
Soube do projeto do Sindicato dos Jogadores através de um amigo com quem me cruzei no ginásio, acabei por me tornar sócio do Sindicato, fiz o estágio (até fomos à República Checa, onde foi realizado um torneio entre sindicatos de vários países), trabalhei com o mister Silas, que era o treinador na altura, e passado algum tempo também fui contactado pelo clube Lusitano de Vildemoínhos. Acabei por assinar por eles, passado uns tempos. Infelizmente, o azar bateu-me à porta, sofri uma lesão e estou nessa situação até hoje.

Como é que tem sido viver esta situação de estar impedido de jogar desde 2017?
A situação da lesão foi horrível. Posso dizer que não sei o que seria de mim e, se não fosse o Sindicato, porque tem-me dado muito apoio nos últimos tempos. É praticamente uma família, o Sindicato. A dona Fátima, que sempre que eu preciso é alguém a quem eu ligo para chatear a cabeça; o próprio dr. João Oliveira e o presidente têm-me dado ajuda. Não me deixam ir abaixo. Sinto que o Sindicato está lá para mim, para tudo o que eu precisar. Em termos jurídicos, dão-me apoio para tudo o que eu preciso. É só ligar que acabam sempre por arranjar uma solução para mim, o que é bom. Por exemplo, quando me propus voltar a estudar, não estava a conseguir fazer a matrícula; depois de falar com o dr. João Oliveira, consegui, e através do projeto Qualifica, estou a terminar agora o 12.º ano.

Olhando para a frente, o que vê? Aos 24 anos, com um filho… de que idade, mesmo?
O meu filho tem dois anos, faz três em fevereiro. E praticamente é onde vou buscar forças, sabendo que tenho uma pessoa para cuidar, que é o meu filho. A prioridade agora são os estudos, para no futuro conseguir algo melhor para mim e para o meu filho… Até é difícil falar… Com toda essa situação… É difícil… Porque muitas das vezes chegamos aqui com as expetativas altas, a pensar que tudo vai dar certo. E às vezes não é bem assim, basta uma lesão que tudo vai abaixo. Lembro-me de uma história, por exemplo, no Sporting: o treinador estava sempre a incentivar-nos para não abandonar os estudos, porque nem todos iam lá chegar. E o Gelson dizia-me: “Ah, Batis, não te preocupes, tu vais lá chegar!” Porque mais do que eu, os meus amigos acreditavam muito em mim. E, hoje em dia, olha no que deu. Infelizmente para mim, felizmente para eles. O Gelson sempre teve talento. Mas houve uma altura, na passagem dos sub-16 para os sub-17, ele não acreditava que se ia manter na equipa do Sporting. Ligava-me para ir ter com ele à Amadora para desabafar. Ele dizia-me: “Batis, não sei se vou conseguir ficar, mas tu vais.” Acabámos por ficar juntos. E hoje fico feliz por ele, é um amigo que tenho como irmão. Vê-lo agora onde está é uma alegria para mim.


“Muitas das vezes chegamos aqui com as expetativas altas, a pensar que tudo vai dar certo. E às vezes não é bem assim, basta uma lesão que tudo vai abaixo”


As circunstâncias da vida levaram-no voltar aos estudos e está na Escola Secundária Marquês de Pombal, em Lisboa, a frequentar o programa Qualifica, juntamente com cerca de 50 alunos. Uma mensagem para quem está agora a começar será não deixar os estudos?
Sim, a mensagem que tenho para os mais novos, como para as pessoas da minha idade: o futebol, quando tudo corre bem, está bem. Mas não devem nunca abandonar os estudos. Se soubesse o que sei hoje, não deixava a escola assim tão cedo. Ia preocupar-me com mais coisas do que apenas futebol. Hoje estou nessa situação e a única coisa que eu sei é que tenho o apoio do Sindicato. Tirando a minha família, sei que o Sindicato está aqui para me ajudar em tudo, como diz o presidente, tudo o que eu precisar é só bater à porta, o Sindicato está cá para ajudar.