O nosso departamento de observação vê-se doido para desmontar uma Atalanta

O nosso departamento de observação vê-se doido para desmontar uma Atalanta

2021-02-10

Luís Castro, treinador do Shakhtar Donetsk, foi o formador da sessão “Modelo de Jogo vs. Estratégia de Jogo”.

Decorreu esta terça-feira, 9 de fevereiro, a primeira ação de formação online do novo ciclo promovido pelo Sindicato dos Jogadores. A sessão esteve a cargo de Luís Castro, treinador do Shakhtar Donetsk.

Apesar de todas as limitações que a pandemia trouxe às nossas vidas, hoje as tecnologias permitem aproximar-nos. Em direto da Ucrânia, Luís Castro chegou a mais de um milhar de casas, muitas delas de caras bem conhecidas do futebol nacional, que ao longo de duas horas ouviram e questionaram um dos treinadores portugueses com provas dadas longe da terra natal.

Alargando o conceito de modelo de jogo a tudo o que envolve o clube, da organização à comunicação, passando pela própria cultura e dia-a-dia, Luís Castro considera a estratégia de jogo como algo mais específico, que vai da forma de abordar os jogadores a seguir a uma derrota até a como encarar a classificação.

O adversário, em função do qual é definido o que pretende de cada jogo, tem sempre de ser respeitado. Já a ideia de jogo, essa tem de ser ajustada aos seus jogadores. Sem pudor em dar exemplos concretos, considerou que não acredita em tentar contrariar a natureza de cada um dos seus jogadores. Podem ser moldados aos poucos, mas sem lhes retirar o que lhes está no sangue.

Em termos de adversários, Luís Castro utilizou vários exemplos da Liga dos Campeões, uma forma mais produtiva de passar a mensagem a quem o ouvia, revelando que considerou decisiva a intervenção da estratégia no jogo contra o Manchester City, disputado no Etihad, bem como nos dois jogos contra o Real Madrid.

Outra das áreas bastante abordadas foi a análise em vídeo. Em declarações ao nosso site, Luís Castro explicou que, fazer ou não esses vídeos, depende do equilíbrio que procura encontrar em cada grupo, bem como a quantidade de vídeos que utiliza para o campeonato e para as competições europeias: “O nosso departamento de observação, edição de imagem, vê-se doido para desmontar uma Atalanta. Desmontar as dinâmicas do City é uma coisa muito complexa. Durante o próprio jogo ele implementa dinâmicas diferentes e aquilo é o caos para nós analisarmos. O Inter é outra dessas equipas que exigem muita observação. O risco de perdermos pontos no campeonato é o mesmo de numa Champions ou na Liga Europa. Agora, a riqueza das equipas, dos seus movimentos, das suas dinâmicas ofensivas e defensivas é diferente. Se eu hoje chegar ao pé dos meus jogadores e apresentar quatro vídeos do Mynai, que nem sabem os nomes deles, ou do Inter, eles para o Inter estão com atenção nos quatro vídeos. Não quer dizer que não perca com o Mynai e ganhe ao Inter.”

Luís Castro não tem dúvidas da importância drástica que uma equipa técnica hoje tem nos resultados de um treinador. “A liderança tem de estar aportada ao treinador, todo esse edifício. Agora, um treinador pode não dominar a fisiologia, anatomia, os GPSs e os dados, mas a liderança e observação tem de dominar. Na minha equipa técnica não está o meu irmão, o meu sobrinho e o meu primo. Ando à procura de relações de competência. Nós sabemos quem são aqueles que nos satisfazem, se são eficazes connosco. Se são os melhores, não temos muitos termos de comparação. Neste caso em concreto, o José Costa. Trabalhei com ele no Vitória e faltava-me essa peça aqui. Fui buscar uma pessoa que achava que tinha competência, quer a nível profissional, quer a nível de valores humanos, que é outra coisa que valorizo muito. Não quero o mínimo de problemas, faltas de respeito, não quero o meu banco a discutir com o outro banco, aos saltos. Ai deles! Enquanto estamos a discutir para o lado, não estamos a ver o que se passa lá dentro.”

O treinador considerou ainda que o futebol de hoje é claramente diferente do que conheceu enquanto jogador. “Há muito mais preocupação a nível da informação e da comunicação, do conhecimento do adversário, das estratégias a adotar para cada jogo. E há muito mais respeito. Eu ainda sou do tempo das invasões de campo. Hoje é impossível. E invadia-se porque aconteciam coisas dentro do campo que motivavam uma invasão de campo. Não é melhor nem pior, são diferentes. Felizmente, o mundo vai sendo melhor.”  

Esta foi a primeira ação inserida num novo ciclo de formação, que continua já amanhã, quinta-feira, dia 11. Luís Mesquita, Nuno Ribeiro e Neide Simões serão os formadores do curso à distância "Condição Física e a Pandemia no Futebol Feminino", entre as 17h00 e as 19h00.

A ação será transmitida através do Facebook do Sindicato dos Jogadores e do site do Record, media partner do Sindicato. Quem pretenda que seja creditada para o título de treinador (TPTD) deve inscrever-se AQUI, para participação via Zoom. Será dada prioridade aos sócios do Sindicato dos Jogadores.