"É importante ter estudos para garantir uma fonte de rendimento"

2018-09-12

O atleta do Vitória SC sente que é possível conciliar os estudos com o futebol e já concluiu o seu mestrado.

Concluiu uma licenciatura em Desporto e Atividade Física e um Mestrado em Atividade Física. Fez os seus estudos de forma contínua, já a conciliar com o futebol?
Nunca interrompi. Eu estava em Castelo Branco, ainda jogava num nível amador. Tinha aulas durante o dia, depois tinha o treino e deu para conciliar sempre. Quando vim para o Vitória já só me faltava fazer a tese de Mestrado e não era uma questão presencial: fazia a tese em casa, ao meu ritmo, tinha um prazo para entregar e foi assim.

Onde fez o seu percurso académico?
Na Escola Superior de Educação de Castelo Branco.

São muito poucos os jogadores da Primeira Liga que concluíram um Mestrado. Acha que faltam medidas que apoiem a conciliação dos estudos com a profissão de futebolista?
Acho que não. Há estatutos na universidade, de atletas de alta competição, que permitem aos jogadores faltar mais do que os outros estudantes porque a profissão assim o exige, por isso dá para conciliar. Muitos fazem-no.

A família e os clubes por onde passou apoiaram-no sempre relativamente aos estudos?
Sim. Nunca meteram qualquer entrave. Pelo contrário, até achavam positivo e incentivaram-me sempre a continuar.

Sente que é visto pelos colegas de equipa como um exemplo a seguir?
Sim, mas isso já depende de cada um, se querem mesmo seguir os estudos e ter um projeto além do futebol. O meu objetivo era chegar longe no futebol e dedicar-me ao futebol como a minha profissão, mas estando no nível em que estava na altura, não sabia se ia conseguir ou não. Era um plano B, digamos assim. Era e continua a ser porque quando a profissão de futebolista acabar será por aí que vou enveredar.

Os colegas da faculdade olhavam para si com alguma admiração pelo esforço de conciliar os estudos com o futebol?
Sim. Quer queiramos quer não, ser futebolista tem sempre algumas regras. Eles iam para festas e para a noite e eu não. A minha personalidade também nunca foi muito disso, tenho de admitir, mas eles admiravam mais essa parte.

Tirar uma licenciatura e um Mestrado era um objetivo que sempre teve?
Sim, fez parte da educação que tive. Os meus pais e o meu irmão influenciaram-me nesse aspeto.

Aconselha os colegas, principalmente os mais novos, a não abandonar os estudos?
Claro! Nem todos conseguimos chegar a um alto nível como jogadores, por vezes há fatores que não nos permitem chegar aos patamares que ambicionámos e é importante ter estudos como uma garantia para uma fonte de rendimento alternativa.

Abandonar os estudos precocemente é uma das maiores “pragas” para quem quer ser jogador profissional?
Praga é uma palavra um bocado excessiva, mas é um desaproveitamento da parte das pessoas, do conhecimento e potencial académico que podem ter. Há um bocado aquela ideia de que o jogador de futebol só vê bola quando não tem de ser assim e podíamos mudar um bocado esse estereótipo.

Se não há mais jogadores a estudar, isso deve-se sobretudo aos próprios? É isso?
No meu caso, os professores sempre me apoiaram. Sempre que podiam não colocavam alguma objeção a ter de faltar a uma aula ou mudavam o dia de uma avaliação, também depende do acesso de todas as partes. Às vezes falo com colegas que tentaram prosseguir os estudos e a escola ou os professores não facilitam muito esse processo. Há essas variáveis. Mas acho que é vantajoso para as duas partes, quer para a instituição, que tem o jogador, quer para o jogador, que pode concluir os estudos.

Um jogador com formação académica pode ser melhor em campo?
Isso é sempre relativo. A mim ajudou-me porque tive várias experiências na escola, mesmo de aulas práticas, que me ajudaram física e intelectualmente a resolver algumas questões. Mas é uma questão muito subjetiva.

Qual é a sua opinião sobre a atuação do Sindicato no futebol português?
É importante porque muitos jogadores têm problemas que não sabem como solucionar e o Sindicato é sempre uma ajuda e um apoio importante. Está sempre disponível para ajudar em qualquer problema que os jogadores possam ter com o clube ou com a Liga. É uma salvaguarda.


Perfil
Nome: João Ricardo da Silva Afonso
Data de nascimento: 28 de maio de 1990
Posição: Defesa
Percurso como jogador: ARCB Valongo (formação), Desportivo de Castelo Branco (formação) Benfica e Castelo Branco (formação), Benfica e Castelo Branco, Vitória de Guimarães, Vitória de Guimarães B, Vitória de Guimarães, Estoril, Córdoba (Espanha) e Vitória de Guimarães.